domingo, 29 de junho de 2014

O Segredo de Sophia, de Susanna Kearsley



Este é um livro que junta o passado com o presente e a ficção com a realidade histórica. Foi com grande expectativa que iniciei a leitura, uma vez que as opiniões lidas bem como a sinopse deram-me uma visão de uma possível história que eu iria gostar muito. Logo no início senti-me atraída pela história.

A história é narrada por Carrie McClelland, escritora de romances históricos, que está a escrever uma história sobre a tentativa de restaurar o rei Jaime no trono escocês em 1708, tendo em conta a perspetiva do coronel Nathaniel Hooke, tendo em conta o ambiente francês, da corte de Saint-Germain. No entanto, numa visita à sua agente, Jane, na Escócia, Carrie sente-se completamente atraída para lá, principalmente para o castelo de Slains e para Cruden Bay. Depois de compreender que tinha de estar ali para escrever o seu livro, ela muda-se para uma pequena casa de praia alugada e começa a escrever. Porém, a escrita começa a tornar-se demasiado fluente, intensa, e a afastar-se do seu proposto inicial, passando a centrar-se numa personagem fictícia, Sophia Paterson, inspirada numa sua parente da época. No entanto, Carrie começa a descobrir que muito do que escreve não é apenas ficção, mas algo mais, quando começa a confrontar o que lhe parece ser o produto da sua imaginação com factos históricos que nunca antes tinha lido durante as suas pesquisas. Assim, Sophia torna-se em algo mais do que uma mera personagem inventada, mostrando que há mais para descobrir do que aquilo que parecia no início.

Não é o primeiro livro que leio que tem por contexto a revolta jacobita, em que os escoceses tentaram restaurar um rei no trono da Escócia. Li A Rosa Rebelde, de Janet Paisley, e Outlander – Nas Asas de Tempo, de Diana Gabaldon. Passam-se em diferentes tempos, mas ambos mostram as diversas tentativas escocesas de restaurar a independência face à Inglaterra, voltando a colocar um rei no trono, rei esse que tinha sido exilado em França: Jaime VIII da Escócia e III de Inglaterra e, anos mais tarde, Carlos Eduardo, filho de Jaime. E devo dizer que é sempre com grande prazer que leio sobre este período histórico. Gosto muito da Escócia e da sua História. Penso que este gosto vem de há vários anos atrás, da primeira vez em que vi o filme Braveheart, era ainda criança. Desde aí já o vi várias vezes e, cada vez que o revejo, é como se fosse a primeira. 

Gostei imenso da história. As personagens são fantásticas, muito bem delineadas e com carater. Tanto as do presente como as do passado estão muito bem, todas diferentes e com personalidades muito próprias. De realçar que praticamente todas as personagens que fazem parte do passado (da história que Carrie escreve) são reais, existiram de verdade e há bastante informação sobre a maior parte delas. Gostei muito das personagens do presente, especialmente de Carrie, Graham e Stuart, que fazem um trio bastante engraçado e que dá bastante cor há história. Porém, senti uma maior emoção pelos destinos das personagens do século XVIII, principalmente por Sophia e John Moray, um par que me emocionou bastante ao longo da narrativa e que me proporcionou uns belos sustos e alegrias ao longo da leitura.
O detalhe histórico está excelente. A autora escreveu com enorme rigor e, no final, apresenta uma nota muito bem escrita, concisa e coerente sobre a parte histórica do livro. As descrições também estão muito boas, permitindo ao leitor a possibilidade de se imaginar nos locais por onde passam as personagens, tanto no presente como no passado. Também a descrição do ambiente emocional está bastante boa, conseguindo criar climas de grande tensão, bem como climas descontraídos. Ou seja, há um equilíbrio bastante estável entre estes dois fatores.

Gosto de histórias que me digam algo; que me façam sonhar; que me conquistem e que me emocionem. Aqui está uma história que me proporcionou tudo isso. E, como é uma espécie de “história dois em um”, senti que estava presente em dois momentos, no presente e no passado, como uma viajante do tempo. Senti que, tal como Carrie, podia ter acesso ao passado de Sophia, estar presente ao longo de um período decisivo da sua vida e viver as suas aventuras com grande intensidade.

Assim, este é um romance um pouco diferente. Tem uma mistura de viagens no tempo, mas não é sobre isso e o que acontece não é realmente nada disso. É um romance bem rico, cheio de todos os ingredientes que um bom romance deve ter. Não é de modo algum lamechas, nem por sombras. Tanto Sophia como Carrie são mulheres bem interessantes e complexas, nada simples nem corriqueiras. E o mesmo se passa com os homens. Principalmente na parte de Sophia, o enredo é mais complexo, tem mais intrigas politica, mais momentos de tensão. Foi nessa parte que mais me emocionei, principalmente nos momentos mais para o final. Depois, na parte de Carrie, não há tanta tensão, mas há o mistério em torno do que provoca o conhecimento daqueles factos todos e também os relacionamentos de Sophia com Graham e Stuart, que são irmãos, e também gostei dessa parte, que por momentos pensei que se ia tornar um pouco mais densa, mas que ficou bem como ficou, deixando a tensão que poderia ter sido criada para o lado de Sophia.

Em suma, é um livro muito bom. Um romance histórico bem escrito, com tudo o que deve ter: rigor, uma escrita interessante e apelativa, muitas peripécias e a dose certa de todos os ingredientes. Sem dúvida, um dos melhores romances históricos que já li, onde a ficção se mistura com a História de um modo perfeito. Aconselho vivamente, a todos, sem exceção. Uma história muito bonita e está muito bem contada, o que promove uma leitura bem recheada de bons momentos.

Algumas citações:

- Então, como vês, o meu coração está preso para sempre a este sítio - disse ela. - Não posso partir.
Não posso partir.
p.26

Quando terminou, Moray pôs o braço em torno dela para a manter perto de si e ela pousou o rosto sobre o tecido fino da camisa dele, sentindo as batidas do seu coração bem junto ao ouvido. No céu, uma gaivota pairava ao sabor do vento, com as asas abertas aparentemente imóveis. A sua sombra solitária movia-se na areia ao lado de ambos. p.252

- Disseste-me uma vez - afirmou ele - que o vosso coração me pertencia.
- E pertence.
- E o meu coração pertence-vos a vós, Sophia. - Colocou uma mão sobre a dela e encostou-a ao seu peito, para que ela pudesse sentir o bater do seu coração. - Não viajará comigo através das águas. Onde estiverdes, ele estará convosco. Não ficará sozinha. E eu nunca mais estarei completo, até ao momento em que regressar
.
p.296

NOTA (0 a 10): 10

7 comentários:

  1. Ois amiga,

    Bem com direito a ilustração e nota máxima na escala sendo romance histórico, só posso comentar a ver se emprestas ao amigo corvo lol....estou a brincar que tenho muita cisa pela frente para ler e sem tempo para nada, seja como for o comentário está excelente - sei quenão estou a ser original - e percebesse que foi um livro que te encheu as medidas, bom sinal ;)

    Registado :)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá amigo Fiacha,

      verdade, um excelente livro. Era para ter feito uma ilustração a cores, mas acabei por fazer assim. Pode ser que ainda a faça! Eheh, não digo que não =P
      Muito obrigada =)

      Acho bem =D

      Bjs e boas leituras!

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  2. Olá Maria,

    parece interessante, vou anotar e talvez para a semana

    já esteja na minha estante

    ty


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    1. Olá Bryseyas,

      eu gostei muito. Espero que também gostes.

      Bjs e boas leituras

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  3. Dela só li o Mariana mas lerei esse ainda este ano :D

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    1. Tenho de ler o Mariana. É bom não é?
      Acho que fazes bem, é um excelente livro =D

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  4. Olá Maria. :)

    Da autora já li "Mariana" e também adorei, é soberba a sua escrita, as suas personagens, tal como a forma como conjuga os saltos temporais, que pelo que percebo este volume também possui. Sem dúvida, que conto ler este livro e pela tua opinião e cotação, certamente que é excelente. :)

    Beijinhos e boas leituras

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